Fotografia líquida
Observação: Esse texto tem como objetivo analisar o nosso comportamento na atual sociedade onde tudo é passageiro e aonde o EU vem na frente de tudo e este tudo torna-se nada (liquido). Não estou criticando ninguém até por que eu mesma tiro foto todos os dias.
Uns dias atrás eu lia em uma postagem de um fotografo a frase:
“A melhor coisa sobre uma fotografia é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam.”. Porém imediatamente eu pensei: A fotografia não muda, mas a forma como olhamos a torna outra imagem. Por que olhamos com o sentimento. Isso é tão constante na adolescência que olhamos para a pessoa o coração apita e a pessoa parece que brilha, tem uma beleza inexplicável, porém um dia essa pessoa fere seus sentimentos e você acha a tão feia.
A beleza que nunca vai mudar a imagem da foto está no sentimento preservado. Mas fico me perguntando se hoje que tiramos foto de tudo, todos os dias, estamos guardando memórias? Ou será por que vivemos numa sociedade, onde tudo é passageiro e quase tudo de muito perdeu bastante o valor. Somos artificiais. Lendo alguns livros do sociólogo Zygmunt Bauman e vendo algumas entrevistas, ele sempre afirma o mesmo: nós somos uma sociedade liquida. O amor é liquido, a sociedade é liquida, a educação é liquida e etc.
Voltando a pergunta estamos, guardando as memórias da liquidez humana, de cliques fáceis, de deletar fácil, de efeitos nas fotos para parecermos perfeitos ou para fugir do que realmente somos fisicamente. Memórias de sorrisos falsos para todos pensarem que “eu sou”, “eu estou”, “eu posso”, o reino do EU.
Já coleciono fotos assim de sorrisos que esconde uma tristeza, dor, realidade. Uns dias antes de me formar em Direito tinha sido internada, dias antes da formatura já estava em casa, porém tinha que voltar ao hospital, dia sim e dia não, e tinha que tomar uma injeção que na hora só sentia a picada. Minutos depois sentia algo queimando e doendo por todo meu corpo, eu gritava de dor. Um dia antes da formatura tomei esse medicamento, no dia da formatura precisava de apoio para subir escadas, meus movimentos eram curtos e eu sentia uma dor crônica.
Eu me sentia louca ou vivendo um momento em um universo paralelo que não me pertencia, todos pulando sorrindo, gritando comemorando e eu só queria deitar. Tudo estava alegre demasiadamente para minha dor, mas logo começou o, vamos tirar foto? Eu me esforcei para sorrir e sorri, no entanto toda vez que vejo aquelas fotos vejo quanta dor e quão injusto parecia todos aqueles sorrisos, eu não estava feliz.
E o fato de editar a foto para parecer menos obesa? Maquiagens virtuais, lentes de contato, cabelo com outra cor, pele clara. Essa é a foto para o EU virtual, por que pessoalmente não tem como esconder 200 kg e a ausência de uma lente. Maquiagem? Mal passo um batom. Mas se eu postar uma foto natural estaria fora dos padrões virtuais, seria julgada por todos meus contatos. Zygmunt Bauman explica que a vida virtual é feita de links onde eu posso facilmente adicionar e deletar. Que é bem diferente de comunidade aquela que te ampara que existe uma base. Por isso todo dia que tirarmos uma foto sem um motivo (aniversário, casamento,viagem e etc) plausível, como na época que era preciso revelar fotos, serão fotografias líquidas, nos tornaremos mais líquidos.
Escrito por: RMOL
Formação: Bacharel em Direito e letranda em Inglês.
Cursos:Libras, Informática básica (MSDOS, Windows 3.0, Windows 95) e Inglês.
Contato: sitesimples76@bol.com.br